1 de jan. de 2012

Monte Roraima: O meu desafio



Este foi um dos destino que não estava na minha lista, a ideia de andar por dias com mochila na costa, acampar, dentre muitas outras razões fazem com que geralmente eu exclua dos meu roteiros as expedições.

Mas já faz exatamente alguns anos que ouço falar do Monte Roraima, o sonho do meu marido era um dia poder chegar a um dos maiores tepuis da América do Sul com seus 2.800 acima do nível do mar. O primeiro convite foi feito por ele no nosso primeiro aniversário de casamento e minha resposta sem pensar 2 vezes foi um "não", seguido de "me convida daqui a 5 anos." Eis que os 5 anos passaram, parabéns pra nós :D e o convite foi refeito e eu com meu espírito super "aventureiro" pensei por que não encarar desta vez?

O Bruce tinha tudo organizado, acredito eu que há muito tempo, mas obviamente eu não queria pegar as informações com ele que faria um marketing fabuloso para tentar me convencer que seria a melhor viagem da minha vida. Então comecei a buscar algumas informações sozinha e alguns relatos. Dicas sobre estar muito bem preparado fisicamente, comer miojo e enlatado por 7 dias,  os mosquitos assassinos e não ter um banheiro (isso para mulheres é algo muito importante) não eram muito estimulantes.  Até eu encontrar com o Jodrian do Aventura Mango, que já havia feito a expedição há alguns anos e fez um belo relato sobre o Monte Roraima aqui --> Aventura Mango: Monte Roraima

E foi no dia 7 de Dezembro de 2011 que começou uma das maiores aventuras e desafio deste ano.
Partimos cedinho as 5:00 da manhã do hotel em Boa Vista rumo a Venezuela. Apesar do nome ter o estado de Roraima, a porta de entrada é pela Venezuela. A viagem por estrada envolve aproximadamente uns 250 km até a cidade venezuelana Santa Elena de Uairén. Durante o trajeto tivemos umas três paradas, uma pausa para ida ao banheiro,  outra até a fronteira para cumprir com os transmites convencionais de imigração. A última parada foi de 1 hora, em Santa Helena de Uairén, onde trocamos de carro para um 4x4 e seguimos pra uma panificadora para tomarmos um café reforçado com direito a muitos doces e sanduíches. Foi também na cidade que fizemos a troca de alguns bolivares recomendado pela empresa que nos guiava.  Mais 1 hora na estrada e estávamos no Parque Nacional Canaima.

Chegada no Parque
Centro de Informação

1º Dia - 
A equipe
A chegada no parque aconteceu por volta do meio dia, a entrada para iniciar a excursão é permitida somente até as 13:00 horas. Após fazermos o registro, organizarmos nossas mochilas e já avistávamos de longe a bela paisagem e a longa estrada que nos esperava. A equipe era formada por mim, o Bruce, a Maggie (prima do meu marido) e duas figuras de Manaus o Eduardo e o Júlio, que garantiram boas risadas durante a viagem.  Nosso guia da empresa Roraima Adventure era o Marcelo e também formavam a equipe 3 indígenas da vila São Caetano o Joaquim, Vanessa e Graciela.

A direita o Monte Roraima e a esquerda Kukenan
A caminhada começou por volta das 12:45 horas, tínhamos 14 km a serem percorrido. Os primeiros 45 minutos de caminhada foram fáceis, há riachos que cortam as trilhas, onde podíamos abastecer nossos cantis, após os primeiros 45 minutos enfrentamos o trecho mais desgastante, o temido "Morro da Morte" nada perigoso, um subida curta, mas muito ingrime.
Ao chegar lá em cima é que você verifica se tens um bom condicionamento cardio-respiratório. O percurso de aproximadamente 4 horas, pra mim foi bem cansativo, o fato de acordar muito cedo, começar a caminhada ao meio-dia, com pleno sol me fez agradecer a chegar até o primeiro acampamento base, nas margens do Rio Ték.

Kukenan
Acampamento 1 no Rio Ték
Ao chegar no acampamento não tínhamos com o que nos preocupar, pois a equipe já montava nossas barracas e o Marcelo começou a preparar nosso jantar. Então fomos nos refrescar nas águas do Rio Ték, quando entrei na água fez todo sentido, quando o Marcelo nos aconselhou ainda tomar banho com o corpo quente. O cair da tarde deixava ainda mais reluzente os tepuis Kukenan e o Monte Roraima. A comida também estava excepcional, dizem que a fome é o melhor tempero, mas acredito que demos sorte mesmo com nosso guia que já tinha trabalhado em restaurantes e não nos deixou insatisfeitos.

2º Dia - 

Sem celular, relógios e afins nosso despertador era os primeiros raios do sol, seguido do barulho do fogareiro, que mas parecia um ventilador industrial. Acho que não era nem 5:30 da manhã e já estávamos de pé prontos pra tomarmos café e ansiosos pelo 2º dia de trekking. Foram 9 km, divididos em duas etapas, os primeiros 4,5 km pareciam os 14 km que tínhamos percorrido no dia anterior, o sol não dava uma trégua e as subidas começavam a ser mais frequente. E eu que achava que o 1º dia tinha sido pauleira ... Uma pausa pra comer abacaxi deliciosamente ácido e continuamos o percurso até chegar ao 2º acampamento na base do Grande Paredão. O cenário modificava-se gradualmente, a vegetação que compõe o lavrado (chamado também de Gran Sabana) é formada por muitos arbustos e flores delicadas, não há uma variedade de mamíferos neste tipo de habitat até o topo do Monte. Muitas das espécies encontradas em toda região são endêmicas, apresentando-se nas mais variadas formas e tons.

Planta carnívora endêmica da região
mini orquídea

Na noite do segundo dia estávamos na base da montanha, olhando para a grande parede que iríamos enfrentar no dia seguinte e cada um com sua expectativa do que iria encontrar no topo. A emoção tomava conta antes de dormir e nesta noite tivemos uma bela noite de lua cheia que iluminava todo o acampamento.



 3º e o Grande dia! e também o dia que conheci a "arepa"

 A arepa é uma comida tradicional venezuelana e também colombiana, a base de milho misturada com água, sal e ovos, pode ser servida assado ou frito. Definitivamente não era minha comida preferida justo no dia que era preciso estar "abastecida" para a subida.
A subida foi de aproximadamente 4,5 km, totalmente inclinado com previsão entre 4 e 5 horas de caminhada. O nível de dificuldade não era elevado, acho que meu corpo já estava condicionado neste 3º dia. As subidas passavam por diferentes tipos de formação geológica, áreas argilosas, rochas e muitas pedras soltas. Neste trajeto tivemos que passar por um trecho que pra mim era o que apresentava o maior risco, chamado "Passo das Lágrimas", uma subida formada por pedras soltas sob um queda d'água que faz lembrar que todo o cuidado é pouco. Cada passo foi cauteloso, sem pressa e com ajuda do Bruce. Ao passar por esta fase eu tinha lágrimas de agradecimento a Deus por ter cuidado do grupo e também por não chover. Dizem que o clima é bem instável, mas não tivemos uma chuva forte durante toda a excursão. Mais duas horas e estaríamos no topo. Este foi o dia que mais me perguntei porque estava fazendo esta caminhada, mas só em olhar ao redor e ver a paisagem estonteante, a pergunta se calava e vencia qualquer cansaço.

O Topo

Eu não imaginava o que iria encontrar e a chegada foi gratificante, emocionante e realmente essa foi a viagem mais espetacular que fiz neste ano (desculpa Havaí). Em cima é outro mundo, a lua, sei lá o que é ... não há palavras que descrevam. É um mundo com formação rochosa escura e pedras irregulares, que o tempo se encarregou de esculpi-las, formando uma bela cidade de rochas, entre elas desabrocham vida, uma vegetação rala com tonalidade que derivam do amarelo.



A temperatura era perfeita, o nosso era o único grupo que estava no topo e aquele mundo era só nosso. A área é de aproximadamente 20 km2, caminhamos um pouco e fomos levados até os jacuzzis para tomarmos um banho. Os jacuzzis são cravado entre as rochas, com águas transparentes e o fundo coberto de cristais. Alguém precisa de um cenário melhor que este?
Jacuzzis

4º dia -
Era dia de explorarmos este planeta, destaque pro café da manhã, que o Marcelo preparou deliciosos dumplings (base de batata) e ovos mexidos. Sem sinal de chuva fomos visitar alguns pontos no topo: a Lagoa, La Ventana, o ponto mais alto do Monte e o belíssimo Vale dos Cristais. Aprendemos muito sobre a cultura indígena, além de bonitas lendas que fazem parte da cultura deste povo e da região, contada pelo guia e também pelos índios que estavam conosco.



5º e 6º Dia - A descida
Após duas noites no topo, acordamos no 5º dia e começamos a descida cedo, passamos novamente pelo Vale do cristais, que reluziam com o dia bonito que estava fazendo. Estava feliz pois não tinha chovido e na noite anterior temia com o retorno. Na descida cruzamos com muitas equipes que iniciavam sua subida contamos mais de 30 pessoas, desde as muitos preparadas até aos que tentavam subir de crocs. Descemos reto até o primeiro acampamento base no Rio Ték. A descida foi um árduo trabalho para o joelhos e o cuidado foi redobrado.
O 6º dia - Começou cedo nossa despedida oficial, última olhada para a Mãe das Águas (Monte Roraima) e após 4 horas chegávamos a aldeia de onde partimos para nossa excursão. Tivemos uma parada na aldeia São Francisco para almoço e seguimos pra Santa Helena e depois Boa vista.

O Monte Roraima ficará gravado em minha memória como a melhor a viagem de 2011, pela paisagem, experiência e aprendizado com as pessoas que convivemos. Minha "mala" veio cheia de boas lembranças que fico feliz em compartilhar-las aqui.

>> Informações

Há várias empresas que fazem o pacote partindo de Boa-Vista (Roraima) e também de Caracas (Venezuela). Entre elas destacam-se a Venturas e Aventuras , Pisa Tur e a Roraima Adventures.

Fizemos nossa excursão com a Roraima Adventures, que mostrou um excelente trabalho e profissionalismo desde o contato inicial até o fim da viagem. Parabéns a toda equipe que nos ajudou com esta aventura !

Também é possível contratar guias avulsos na própria aldeia e carregadores pra mochila, o que significa que todo translado e transporte ficará por sua conta, então planeje-se bem se esta for sua opção.

>> Quando ir

Evite o período chuvoso para fazer esta excursão. Informe-se sobre a melhor época do ano para desenvolver a atividade. Dezembro a fevereiro foi o período indicado como boa época para visitar o Monte Roraima.

>> O que levar

Item indispensável como remédios de uso pessoal devem ser levados, pois a empresa não fornece medicamento via oral. Para a travessia de rios o uso da bota deve ser evitado, então outro tipo de calçado que possa molhar e dar estabilidade é recomendado. Protetor solar é uso obrigatório até para as peles mais morenas.  

Sugiro a troca de moeda ainda em Santa Helena, pois no último dia o almoço é por conta própria e também na aldeia é possível encontrar aquela gelada e coca-cola, além de artesanato local. É de bom tom separar uma gorjeta para os carregadores e também para o guia.

Aos que estão pensando em fazer e quiserem tirar alguma dúvida, fiquem a vontade.   

Roraima Adventure: +55 (95) 3624-9611/ 3623-6972
Boa Vista- Roraima


18 comentários:

  1. Simplesmente amei Raquel! Fiquei morrendo de vontade de ir! Lindo demais!!!

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  2. Adorei o post e principalmente as lindas fotos! Inspirou e deu vontade de conhecer tb, apesar de ser como vc, que a principio não era tão chegada em expediçoes deste tipo. Mas quem sabe! ;-)

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  3. Gostei muito de seu relato. Me fez reviver os momentos inesquecíveis da minha ida e fico feliz em ter contribuído com informações. É uma aventura possível e que vale muito a pena. Parabéns pela conquista (ou foi o Roraima que te conquistou?)

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  4. Oi, Raquel!

    Esse post foi selecionado para a #Viajosfera dessa semana, do Viaje na Viagem.

    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Bóia Paulista

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  5. O Monte Roraima definitivamente me conquistou Jodrian e agora já posso pensar sem receio em outras aventuras do gênero.
    Simone é um experiência única! Eu demorei 5 anos pra topar, e hoje já penso em encaixar este tipo de viagem nos meus roteiros.

    Abraços

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  6. Super post! Adorei conhecer os detalhes dessa aventura (chamar de viagem seria subestimar a trabalheira!)
    Bom ano,



    www.arteamiga.wordpress.com

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  7. Maria Luisa Parapinski5 de janeiro de 2012 às 08:58

    ..que gostinho de aventura que senti agora!!

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  8. Bem vinda a tribo dos trilheiros de vocação ... texto excelente. Viajem invejável.

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  9. Lu e Jackson pensamos muito em vocês nesta viagem, com certeza vocês iriam desfrutar ... a próxima deveríamos montar uma grupo de amigos pra subir.

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  10. Que chique ! Obrigada a visita do VnV e pela menção no #Viajosfera.

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  11. Realmente é muito lindo, um dia vou conhecer,parabéns pela escolha desse lugar Raquel ;)bjs
    Lu Batalha

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  12. Sempre tive uma ponta de vontade de conhecer o Monte Roraima, mas sempre achei meio impossível... Agora, estou começando a cogitar de verdade! Quem sabe...
    Adorei o post!

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  13. olá Raquel, vi esse blog postado na página da querida d. Lacy. Também irei ao Monte no período de 14 a 24/07 com o Magno. Se quiser saber um pouquinho de nós, va na página do face Nóes e o Monte Roraima. Parabéns, Tenho certeza que será uma viagem inesquecível!!!!!

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    1. Kelly como foi sua viagem ao Monte Roraima? Espero que tenha sido muito boa, pois é uma aventura inesquecível! Tentei acessar a pg no face mas não consegui ...

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  14. Tudo lindo!!! Quero muito ir,porém´uma curiosidade me afronta: como que fazemos nossas necessidades fisiológicas?

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    1. haha essa é a parte que mais me deixou apreensiva! Eles colocam uma espécie de barraca vertical com um banquinho de plástico e cada pessoa ganha um pacote com sacos de lixo ... este é o banheiro móvel que os índios carregam durante todo trajeto pra nossa "comodidade".
      ;)

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    2. Obrigada por responder. Agora vou pensar se encaro esse banheiro,rsrsrsrsrsrs...

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  15. oi Raquel,tudo bem com voçe.
    O meu nome e Eduardo,eu e meu amigo Julho fizemos parte da sua equipe para subir o monte roraima.
    show relembra esses dias que que levamos para chega la em cima.
    Abraços

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